O trabalho fundamental de Gichin Funakoshi foi o de introduzir as alterações necessárias à transformação de uma arte de guerra, numa actividade formativa, física e espiritualmente, ao serviço do HOMEM.
Foi em 1900 que o Mestre Gichin Funakoshi efectuou, no Japão, a primeira demonstração pública, daquela que viria a ser conhecida universalmente sob o nome de Karate-Do, «A Via das Mãos Vazias». Mãos Vazias, para se ter a disponibilidade total e, suficientemente, abertas para tudo poder receber.
Gichin Funakoshi nasceu em 1869 em Shuri, distrito de Yamakawa-Cho, Okinawa, filho único, prestou exame na Escola de Medicina de Tóquio, no qual, foi aprovado, mas devido a uma nova lei que proibia aos homens o porte do «Chon Mage» (símbolo da virilidade e da maturidade), não pôde concretizar os seus estudos. Por esse motivo voltou-se para a prática e estudo aprofundado do Karate, no qual, se tornaria, posteriormente, no seu representante máximo.
De uma personalidade bem marcante, com uma vontade indómita, a sua natural benevolência e distinção de maneiras, a par de uma ímpar gentileza e respeito por todos, para além de uma forte energia, muita coragem, muita determinação e uma força mental, altamente capacitada, tornaram-no numa figura que, para muitos era sinónimo de alguém "sobrehumano", um «Tatsujin», ainda mais quando, se contrastava as suas virtudes com o seu pequeno porte físico de 1,67m com 67kg, sendo admirado por todos os seus contemporâneos.
Na sua época, a prática das artes marciais era proibida no Japão e tal como descreve nas suas memórias, no livro "Karate-do - O Caminho da Minha Vida", ele treinava sempre em segredo, repetindo até à exaustão o mesmo Kata. Sem a permissão de seu mestre e até que os seus movimentos chegassem a uma grande harmonia e precisão, não se aprendia um novo Kata, o que o tornou um exímio mestre de renome universal.
Em 1922, fora escolhido para representar a arte do Karate, praticada em Okinawa, numa demonstração pública, em Tóquio. Como já tinha mais de cinquenta anos, Gichin Funakoshi não correspondia ao mito japonês de "budoka (guerreiro) terrível", que o Japão procurava fazer sobreviver, na época, mas mesmo assim, a sua apresentação foi muito bem sucedida.
Muitos aspectos da personalidade de Funakoshi, passaram a ser conhecidos através de histórias passadas, daqueles que conviviam com ele, como por exemplo, Genshin Hironishi, um discípulo seu, no qual dizia que, o seu mestre opunha-se às ideias das gerações vindouras, após a II Guerra Mundial, pois continuaria a seguir os hábitos e costumes da sua época, anterior à I Guerra Mundial. Dizia ele que, Funakoshi se recusava a frequentar uma cozinha ou a pronunciar certas palavras japonesas, modernas, existentes na sua época, alegando que, "...sem elas passava muito bem".
Uma outra peculiaridade comportamental interessante de Gichin Funakoshi, era a forma ritualística com que fazia as coisas, sendo que a primeira coisa que ele fazia, diáriamente, na sua "toilette" matinal, que durava cerca de uma hora, era o escovar os seus cabelos, com uma infinita paciência, e só depois então, voltava-se para o Palácio Imperial e saudava-o com respeito, inclinando-se, após o qual, fazia a mesma saudação, à sua terra natal - Okinawa. Depois desses rituais, tomava o seu chá matinal e reiterava-se dos seus afazeres.
Sensei Gichin Funakoshi deixou-nos uma herança riquíssima, um legado de pensamentos, que espelham a filosofia do Karate e das suas técnicas, bem como, toda a sabedoria oriental. Além disso, deixou-nos dois importantes documentos, quais caminhos, que nos levam a uma vida mais harmoniosa, são eles o Dojo Kun e o Niju Kun que são os axiomas do Karate, os quais, devem ser seguidos por todos os karatecas e que veremos mais adiante.
A partir desta altura, e graças ao abnegado serviço, prestado pelo Mestre Masatoshi Nakayama - honra lhe seja feita - (na foto), discípulo do Mestre Funakoshi, o Karate-do pôde merecer assim, a atenção de muitos homens do saber, proporcionando-lhe uma nova forma de divulgação, expandindo-se além fronteiras, por toda uma equipa de instrutores e técnicos, os quais, ao longo dos anos 60 e 70, perfizeram toda uma geração de Ouro, na vida do Karate-do, fazendo com que pudessemos, hoje, disfrutar da maravilhosa prática que o Karate-do nos proporciona.