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Por que os padres não podem se casar?

domingo, 20 de junho de 2010.

Por que os padres não podem se casar?

A princípio, padres não se casavam por opção, para dedicar 100% do tempo e das energias à oração e à pregação - da mesma forma que Jesus Cristo. Em 1139, ao final do Concílio de Latrão, contudo, o matrimônio foi proibido oficialmente a membros da Igreja. Embora a decisão tenha se apoiado em passagens bíblicas - como "É bom para o homem abster-se da mulher" (presente na primeira carta aos Coríntios) -, uma das razões mais fortes para a transformação do celibato (como é conhecida a proibição do casamento) em regra foi o que, já naquela época, ditava as regras da humanidade. Fé? Nada disso. Grana! Na Idade Média (do século 5 ao 15), a Igreja Católica alcançou o auge do seu poder, acumulando muitas riquezas, principalmente em terras. Para não correr o risco de perder bens para os herdeiros dos membros do clero, o melhor mesmo era impedir que esses herdeiros existissem. Isso não fez muita diferença para os monges, que, por opção, já viviam isolados em mosteiros, mas em algumas paróquias a proibição gerou discórdia. A maior delas ocorreu no começo do século 16 e foi uma das razões pelas quais o cristianismo passou pelo seu maior racha: Martinho Lutero rompeu com o papa e criou a Igreja Luterana, que permitia o casamento dos seus pastores - e permite até hoje (veja o quadro abaixo). Depois da Reforma Protestante, a Igreja Católica reafirmou o celibato, definindo no Concílio de Trento, em 1563, que quem o rompesse seria expulso do clero. A regra se manteve até 1965, quando o papa Paulo VI permitiu que padres se casassem e continuassem freqüentando a Igreja (sem a função de padres, claro). Para conseguir essa liberação, o padre noivo precisa enviar um pedido ao Vaticano e esperar a autorização, que pode demorar até dez anos. "João Paulo II tornou o processo mais demorado, mas Bento XVI está limpando a mesa", diz o teólogo Afonso Soares, professor da PUC-SP. Além de promover a tal limpeza, o novo papa surpreendeu, em agosto do ano passado, ao aceitar que o ex-pastor anglicano David Gliwitzki, casado e pai de duas filhas, e tornasse padre.

Mulher do padre

Veja como outras religiões tratam a vida amorosa de seus sacerdotes

Judaísmo

Rabinos podem ter relacionamentos e se casar. A única recomendação é que a esposa seja judia

Budismo

Não reconhece nenhum ser superior capaz de dar ordens de conduta, mas monges e monjas vêem a abstinência sexual como algo que eles devem se esforçar a aprender

Cristianismo protestante

Pastores (batistas, metodistas, da Assembléia de Deus ou de qualquer outra corrente) podem se casar. Entre os luteranos, há grupos de monges que, por opção, adotam o celibato

Cristianismo Ortodoxo

Homens casados podem virar padres, mas dificilmente serão promovidos a bispos. A regra é a mesma em correntes católicas orientais, como a maronita e a ucraniana

Islamismo

Qualquer homem (no islamismo, não há sacerdotes como no catolicismo) não só pode como deve ter quatro esposas, se puder sustentá-las, é claro. As mulheres, por outro lado, só podem ter um marido

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Qual é a diferença entre padre, bispo e capelão?



Qual é a diferença entre padre, bispo e capelão?

Padre, bispo e capelão são apenas alguns dos vários postos em que se divide a hierarquia da Igreja Católica, que tem como líder supremo o papa. Essa série de cargos eclesiásticos inclui ainda o diácono, o vigário, o arcebispo e o cardeal, numa estrutura hierárquica de dar inveja aos militares. A cadeia de comando da Igreja Católica é baseada na divisão territorial, que tem como principal unidade a paróquia. Não existe um número certo de habitantes para se formar uma paróquia, mas, em geral, ela abrange um grupo mínimo de 10 mil a 15 mil pessoas, o que pode representar um bairro, numa grande metrópole, ou uma cidade pequena. Normalmente cada paróquia tem uma igreja matriz e, dependendo de sua extensão, várias capelas. As paróquias são depois agrupadas em unidades territoriais maiores, como dioceses e arquidioceses. Conforme o religioso vai subindo na hierarquia, maior é a área sob seu controle.

Para regulamentar as relações entre os vários níveis de poder existe a Lei Canônica, um código de direito especial para os religiosos. No dia-a-dia da administração, cada igreja deve gerar receita para cobrir os custos do seu próprio funcionamento. Cerca de um terço das despesas é coberto pelo dízimo, tributo que os fiéis pagam à igreja como obrigação religiosa. O restante vem das coletas feitas nas missas e das taxas cobradas na realização de cerimônias como casamentos. Cada igreja ainda precisa dar 10% do dinheiro que consegue para a arquidiocese à qual pertence. E se não houver arrecadação suficiente? Nesse caso há uma intervenção da arquidiocese, que pode até mudar o padre para melhorar a administração.

Do seminário a Roma

Carreira religiosa tem vários estágios que levam ao papado

Papa

O sumo pontífice é a autoridade máxima da Igreja Católica e vive no Vaticano, um estado independente encravado no meio da cidade de Roma, na Itália. O papa é visto como um representante de Deus na Terra e nomeia cardeais e bispos

Cardeal

É um título honorífico. Um bispo só se torna cardeal quando é nomeado diretamente pelo papa. Os cardeais formam o colégio eleitoral que, numa reunião fechada em Roma, sugere e escolhe o nome do sumo pontífice

Bispo

É a partir desse nível hierárquico que o religioso recebe o título de "Dom" para ser usado antes de seu nome. O bispo também é o responsável pelo comando de uma das dioceses que formam uma arquidiocese

Diácono

É um religioso que está no último dos sete anos de estudos (em média) que levam à carreira clerical. O diácono já pode realizar algumas celebrações religiosas, como batismos e casamentos

Seminarista

É o estudante que freqüenta o seminário, a instituição educacional onde se formam os futuros padres. Mas, antes mesmo de ser ordenado diácono ou padre, um seminarista já pode auxiliar um pároco na parte administrativa da igreja

Coroinha

É um menino, normalmente aluno do catecismo, que se oferece para auxiliar na preparação da missa. Antes de participar desse tipo de cerimônia, o coroinha recebe orientação sobre como funciona todo o ritual

Arcebispo

É o superior direto dos bispos e comanda uma arquidiocese, ou seja, um grupo de dioceses, que por sua vez são formadas por várias paróquias. No Brasil, cada capital do país tem uma arquidiocese dirigida por um arcebispo

Pároco

Popularmente chamado de padre, é o responsável por uma paróquia. Ele realiza os serviços religiosos (como rezar missa) da sua igreja matriz, mas também administra as outras capelas que estão na área da sua paróquia. O vigário é uma espécie de vice do pároco, que pode substituir o padre titular na ausência deste

Capelão

Uma capela é uma igreja pequena, que pode fazer parte de uma paróquia ou estar dentro de uma propriedade particular, como uma fazenda, ou de uma área pública, como um hospital ou quartel. O capelão é o responsável pelo serviço religioso de uma capela

Auxiliares

Membros da comunidade também podem contribuir no dia-a-dia de uma igreja. Os chamados leigos auxiliam nos serviços religiosos; o ministro (ou ministra) da eucaristia faz um curso e recebe orientação para ajudar na distribuição de hóstias; já o sacristão é um funcionário remunerado, que cuida da limpeza do altar e de outras tarefas

Frade, monge & Cia.

A forma de tratamento do religioso depende também da ordem à qual ele pertence

Nem todos que abraçam a vida religiosa católica se ordenam padre. Muitos optam por fazer parte de ordens e congregações, ou seja, comunidades religiosas que têm regras e obrigações específicas - como o voto de pobreza praticado pelos franciscanos. Os integrantes desses grupos que vivem isolados em mosteiros costumam ser chamados de monges - que têm como superior hierárquico o abade. Já os termos frei e frade (que significam irmão) e freira (irmã) são normalmente adotados como forma de tratamento em ordens ou congregações que não mantêm os religiosos tão isolados.

Mergulhe nessa

Na internet:

www.vatican.va

www.cnbb.org.br/

www.arquidiocese-sp.org.br/

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O que é a lenda do Santo Graal?



O que é a lenda do Santo Graal?

por Por Cíntia Cristina da Silva

É uma lenda que atribui poderes divinos a um cálice sagrado, que teria sido usado por Jesus na última ceia. Essa, porém, é uma versão medieval de um mito que surgiu muito antes da Era Cristã. Na Antiguidade, os celtas - povo saído do centro-sul da Europa e que se espalhou pelo continente - possuíam um mito sobre uma vasilha mágica. Os alimentos colocados nela, quando consumidos, adquiriam o sabor daquilo que a pessoa mais gostava e ainda lhe davam força e vigor. É provável que, na Idade Média, tal história tenha inspirado a lenda "cristianizada" sobre o Santo Graal. Na literatura, os registros pioneiros dessa fusão entre a mitologia celta e a ideologia cristã são do século 12. "As lendas orais migraram para textos de cunho historiográfico, desses textos para versos e dos versos para um ciclo em prosa", diz o filólogo Heitor Megale, da Universidade de São Paulo (USP), organizador do livro A Demanda do Santo Graal, que esmiúça esse tema.

Ainda no final do século 12, o escritor francês Chrétien de Troyes foi o primeiro a usar a lenda do cálice sagrado nas histórias medievais que falavam sobre as aventuras do rei Artur na Inglaterra. A partir daí, outros autores, como o poeta francês Robert de Boron, no século 13, reforçaram a ligação entre os mitos do cálice e do rei Artur descrevendo, por exemplo, como o Santo Graal teria chegado à Europa. Foi Boron quem acrescentou um outro nome importante nessa história: o personagem bíblico José de Arimatéia. Nos romances de Boron, Arimatéia é encarregado de guardar e proteger o Santo Graal. Apesar das várias referências cristãs, essas histórias não são levadas a sério pela Igreja Católica. "O cálice da Santa Ceia tem o valor simbólico da celebração da eucaristia. Já seu poder mágico é só uma lenda", diz o teólogo Rafael Rodrigues Silva, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Poderosa ou não, o fato é que essa relíquia cristã jamais foi encontrada de fato.

A jornada do cálice

Romances medievais contam que, de Jerusalém, ele teria sido levado para a Inglaterra

1. Em Jerusalém, durante a última ceia com os 12 apóstolos, Jesus Cristo converte o pão e o vinho em seu corpo e seu sangue - esse sacramento, denominado eucaristia, é um dos pontos máximos dos rituais cristãos. O cálice usado por Cristo nessa ocasião é o chamado Santo Graal

2. Após a última ceia, Jesus é preso e crucificado. Um judeu rico que era seu seguidor, José de Arimatéia, pede autorização para recolher o corpo e sepultá-lo. Antes, porém, um soldado romano fere o corpo de Cristo para ter certeza de sua morte. Com o mesmo cálice usado por Jesus na última ceia, José de Arimatéia recolhe o sangue sagrado que escorre pelo ferimento

3. Após sepultar o corpo de Cristo, José de Arimatéia é visto como seu discípulo e acaba preso, sendo recolhido a uma cela sem janelas. Todos os dias uma pomba se materializa no local e o alimenta com uma hóstia. Mesmo após ser libertado, Arimatéia decide fugir de Jerusalém e ruma para a atual Inglaterra na companhia de outros seguidores do cristianismo. Ele cruza a Europa levando o Graal

4. José de Arimatéia funda a primeira congregação cristã da Grã-Bretanha, onde se localiza a atual cidade de Glastonbury. Nos romances medievais, nessa mesma região ficava Avalon, o lugar mítico que guardaria depois o corpo do rei Artur. Arimatéia prepara uma linhagem de guardiães do Santo Graal, pois o cálice dá superpoderes a quem o possui. Seu primeiro sucessor nessa missão é seu próprio genro, Bron

5. Com o tempo, o Santo Graal e seus guardiães se perdem no anonimato. Quem tenta reencontrar o objeto é justamente o rei Artur, que tem uma visão indicando que só o cálice sagrado poderia salvar sua vida e também o seu reino de Camelot - que ficaria onde hoje há a cidade de Caerleon, no País de Gales. Leais companheiros de Artur, os cavaleiros da Távola Redonda saem em busca do cálice, sem jamais encontrá-lo

Monarca fictício

Histórias sobre o rei Artur se popularizaram no século 12

A cultura celta foi o ponto de partida não só do mito sobre o cálice sagrado, como também do personagem que tornou o Santo Graal popular no mundo inteiro. A criação do lendário rei Artur pode ter sido inspirada num homem de verdade, um líder celta, que teria vivido na Inglaterra por volta do século 5. Mas foi só a partir do século 12 que os primeiros textos com as aventuras de Artur e sua busca pelo Graal fizeram sucesso.

Formas imaginárias

O objeto já foi descrito das mais diferentes maneiras

Simples e redondo

A primeira vez que ele aparece num romance medieval é em Le Conte du Graal ("O Conto do Graal"), do francês Chrétien de Troyes, no século 12. Ele é descrito não como um cálice, mas como uma tigela redonda e simples

Luxuoso e talhado

Em outros textos, que permanecem de autoria desconhecida e são datados entre os séculos 12 e 13, o Graal aparece na forma de um cálice bastante luxuoso, talhado em 144 facetas incrustadas de esmeraldas

Divino e intocável

Em The Queste Del Saint Graal ("A Busca do Santo Graal"), texto do século 13 creditado ao francês Robert de Boron, o cálice é descrito como um objeto divino sem forma. Somente alguém puro e casto poderia tocá-lo

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Como se compõe uma sinfonia?


Como se compõe uma sinfonia?

por Gabriela Portilho

Não existe uma regra para compor uma sinfonia, que é a reunião dos sons de vários instrumentos tocados ao mesmo tempo. No entanto, as sinfonias clássicas dos séculos 18 e 19 costumavam seguir um modelo. É o caso da Quinta Sinfonia (aquela do "tchan-tchan-tchan-tchaaaan"), composta por Ludwig van Beethoven entre 1804 e 1808 e, até hoje, uma das mais executadas de todos os tempos. Primeiro, o compositor desenvolve uma estrutura, ao piano ou teclado, e depois escreve as partituras (representações com as notas musicais) para cada instrumento, do violino à flauta. Hoje, tudo pode ser feito por programas de computador. "O problema é que eles tiram um pouco da espontaneidade da criação", diz Silvio Ferraz, diretor da Escola de Música do Estado de São Paulo.

TOCA AQUI, BEETHOVEN!
Saiba tudo o que rola no primeiro movimento da Quinta Sinfonia

DESTINO À PORTA

Nesta primeira parte, a exposição, são apresentados os "personagens" da história, o motivo e os temas. Na Quinta Sinfonia, o motivo é o famoso "tchan-tchan-tchan-tchaaaan", que seria o destino batendo à porta. Há dois temas, que contrastam entre si: o primeiro é heroico e grandioso, e o segundo, mais lírico e suave

HORA DO DUELO

Neste trecho, em que todos os instrumentos participam, o desenvolvimento, Beethoven brinca com os temas, colocando-os para "duelar". O primeiro tema surge fortíssimo, em um tom de vingança, enquanto o segundo tema, que vai do piano ao fortíssimo, tenta impedi-lo. Por fim, a grandiosidade do primeiro tema se sobrepõe

CONCILIAÇÃO

Nesta parte, chamada recapitulação, os dois temas aparecem novamente, mas sem brigar - desta vez, vêm de forma harmônica, quase numa brincadeira. Aqui, Beethoven brinca com os temas que dão as caras em outras tonalidades - como se os personagens musicais vestissem máscaras e ganhassem outra faceta

BATALHA FINAL

Na forma-sonata, a coda é o encerramento do primeiro movimento, o trecho da música em que o compositor diz algo de novo. Na Sinfonia nº 5, a coda é a batalha final entre os dois temas, tão grandiosa que requer todos os instrumentos da orquestra. Beethoven termina a sonata com a vitória do motivo: tchan-tchan- tchan-tchaaann...

INSTRUMENTOS
Quatro categorias de instrumentos se revezam durante a sinfonia

SOPRO METAIS

Trompa
Tocada com a boca e com a mão, controlando a saída do ar e os timbres

Corneta
Tocada através dos pistões. Tem som brando e penetrante

SOPRO MADEIRA

Oboé
Tubo com formato ligeiramente cônico, com som mais nasalado

Fagote
É o mais grave desta família, muito usado em peças líricas

Flauta
Tubo cilíndrico que produz um som melodioso e doce

Clarineta
Espécie de flauta, considerada o "violino" do gênero por causa do poder sonoro

CORDAS

Violino
Mais agudo dos instrumentos de corda

Viola
Maior e menos aguda que o violino, mas menor que o violoncelo

Violoncelo
Pelo tamanho, deve ser tocado apoiado no chão

Contrabaixo
Mais grave dos instrumentos de corda

PERCUSSÃO

Tímpano
Espécie de tambor tocado com baquetas

INTENSIDADE

Piu fortíssimo: gritando
Fortíssimo: falando alto
Forte: mais alto que a voz
Piano: mais baixo que a voz normal
Pianíssimo: quase um susurro

*A duração da sinfonia pode variar de acordo com a execução da orquestra

QUANTAS NOTAS, MAESTRO?
Como foi composta a Quinta Sinfonia de Beethoven

Toda sinfonia clássica é dividida em quatro partes - os chamados movimentos, o equivalente a capítulos de livros. Eles têm diferentes tempos e emoções, criando uma dinâmica musical que sustenta obras de mais de uma hora - a Quinta Sinfonia dura cerca de 30 minutos*

1º movimento - 0:00 a 6:16

Segue uma forma fixa, a forma-sonata, que você vê em detalhes no infográfico. A música neste movimento é rápida e enérgica. A sonata narra uma história através dos sons - na Quinta Sinfonia, dizem que é a narrativa do destino batendo à porta

2º movimento - 6:17 a 11:03

Geralmente é uma canção, uma música mais lenta e intimista. No caso da Quinta de Beethoven, a melodia deste movimento é mais triste

3º movimento - 11:04 a 15:49

Costuma ser uma dança, um tipo musical mais agitado. É a parte musical mais simples da sinfonia. Para alguns estudiosos, na Sinfonia nº 5, o terceiro movimento vem como a esperança diante da tristeza representada no movimento anterior

4º movimento - 15:50 a 31:05

Também é uma dança, mas ainda mais rápida. Na Quinta Sinfonia, é a parte mais emotiva da composição e tem um tom triunfal. Em outras sinfonias, como a Nona de Beethoven, um coro canta neste trecho

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Cola-Cola é isso aí


Cola-Cola é isso aí

A ascensão irresistível da bebida, que surgiu há um século como remédio para a indisposição, conquistou o mundo como refrigerante e já foi consumida até no espaço

por Cristina de Medeiros

Faltava menos de um ano para que a Coca-Cola, a bebida mais famosa do mundo, completasse um século. No dia 23 de abril de 1985, a direção da empresa convocou uma entrevista à imprensa em Nova York para anunciar a mais de 200 jornalistas uma novidade sensacional: a Coca-Cola ia mudar de gosto. A decisão, explicou o presidente da companhia, Roberto C. Goizueta, fora tomada depois que mais de 200 000 testes com consumidores fiéis haviam revelado uma flagrante preferência por um novo sabor, mais doce, obtido pelos químicos da Coca-Cola. A empresa não tardaria a perceber que cometera um gravíssimo engano.

O simples anúncio da mudança começou a gerar protestos antes mesmo que a versão mais adocicada chegasse ao mercado. Em poucos dias, a companhia foi bombardeada por milhares de cartas de consumidores indignados. Ao contrário do que haviam indicado as pesquisas, o público na verdade execrava a inovação e exigia a volta da fórmula clássica. Assim, passados menos de três meses, a direção da Coca-Cola chamou novamente os jornalistas, desta vez para anunciar, num episódio inédito na história das grandes corporações, que voltara atrás e relançaria o produto tal qual era conhecido.

Não é difícil compreender a reação conservadora do público. Bebida apreciada por nove em cada dez americanos, segundo os números apresentados pelos fabricantes, a Coca-Cola é um símbolo tão característico dos Estados Unidos como a Estátua da Liberdade e a bandeira das listras e estrelas. Quando o governo de algum país quer fazer um desaforo a Washington, tem sido isso aí: rompe relações diplomáticas e proíbe a venda do refrigerante. Foi o que aconteceu em Cuba de Fidel Castro em 1960 e no Irã do aiatolá Khomeini em 1980. É um paradoxo: americana até o fundo do casco, a Coca-Cola no entanto derramou-se de tal modo por todo o planeta que perdeu a identidade nacional.

Nenhuma outra bebida industrializada é tão consumida: existe em pelo menos 160 dos 168 países da Terra. Depois dos americanos, os canadenses, os italianos e os espanhóis são os principais apreciadores per capita, à frente dos alemães, mexicanos e brasileiros. Estima-se que a humanidade tome todo santo dia 1,3 bilhão de litros do refrigerante, um mundaréu de água equivalente a 688 piscinas olímpicas. Volume com o qual o químico americano John Styth Pemberton jamais ousaria sonhar, ao gastar 74 dólares em 1886 para conceber sua fórmula - até porque a Coca-Cola não se destinava originalmente ao consumo de massa.

No início, era apenas mais uma entre as incontáveis beberagens apregoadas nos Estados Unidos das últimas décadas do século passado como infalíveis remédios para uma série de mazelas do corpo e do espírito, como depressões nervosas, desânimo e indisposições variadas. A maioria era uma misturança de ervas e óleos vegetais, mas várias fórmulas continham também pequenas doses de substâncias já não tão inofensivas, como álcool, ópio e cocaína.

Farmacêutico e dono de drogaria em Atlanta, capital do Estado da Georgia, no sul do país, Pemberton (1831-1888) já havia inventado um tônico, a que dera o nome de French Wine Coca, à base de álcool e folhas de coca. O elixir era uma variante do então famoso vinho Mariani, inventado por um químico da Córsega e largamente apreciado na Europa. Como um ingrediente essencial, o vinho de Bordeaux, tornara-se muito caro nos Estados Unidos, Pemberton decidiu eliminá-lo da fórmula. Para que o tônico mantivesse as alegadas propriedades revigorantes, substituiu-o por uma substância que a América descobrira com os escravos trazidos da África e que se habituara a usar como antídoto contra a ressaca: o extrato da noz de cola, o fruto da Cola acuminata, árvore da família das esterculiáceas (como o cacaueiro), de origem sudanesa. Um grão vermelho, com teor de cafeína de 24%, contendo ainda teobromina, alcalóide diurético e vasodilatador, a noz era mascada pelos nativos africanos para combater a fome e o cansaço, a exemplo do que os índios dos Andes fazem com as folhas da coca.

A combinação entre a coca e a cola, porém, dava à bebida um gosto amargo, que precisava ser disfarçado. Meses a fio, instalado em seu laboratório, Pemberton dedicou-se como um alquimista medieval a misturar dúzias de ingredientes em um xarope de cor escura e gosto agradável. Seu sócio e guarda-livros, Frank Robinson, foi quem se saiu com um nome sonoro, de fácil memorização, para o produto: Coca-Cola. Com sua caligrafia floreada, o mesmo Robinson desenhou aquela que viria a ser a inconfundível marca da bebida, patenteada em 1893. O passo seguinte foi anunciá-la como um novo medicamento capaz de suprimir a fadiga, facilitar a digestão, revigorar nervos extenuados, curar dores de cabeça, insônia, nevralgia, histeria e melancolia — tudo isso por 5 cents o copo. Como o capitalismo na época era risonho e franco, sem leis de defesa do consumidor nem castigos para a publicidade enganosa, essa milagreira Coca-Cola passou a ser vendida livremente em pequenos frascos cujos rótulos a descreviam como "deliciosa, refrescante, estimulante e revigorante!"

Estavam na moda então as soda-fountains, as ancestrais das máquinas de refrigerantes das lanchonetes de hoje. Instaladas atrás de elegantes balcões de mármore à entrada de farmácias e drogarias, distribuíam refrescos à base de água gaseificada e xarope de frutas ou de ervas. Diz a lenda que a irresistível ascensão da Coca-Cola começou numa dessas farmácias — por puro acaso. Certo dia, um cliente acometido de enxaqueca entrou na drogaria Jacob’s, em Atlanta, para comprar um frasco de Coca-Cola, com o qual esperava aliviar a dor. Decidindo tomar uma dose ali mesmo, pediu ao farmacêutico para diluir o remédio. Mr. Jacob teve a idéia de misturar o xarope à água gasosa, em vez de usar água de torneira. O freguês sentiu-se recuperado na hora, com certeza mais pelo paladar agradável da nova bebida do que por suas supostas virtudes medicinais.

Seja como for, o episódio passou de boca em boca e em pouco tempo a Coca-Cola gasosa tornou-se procurada, sendo vendida em todas as drogarias. A marca, porém, não ficaria muito tempo nas mãos de Pemberton. Cinco anos depois de inventar a.fórmula mágica, ele a vendeu a outro farmacêutico de Atlanta, Asa Griggs Candler, que se encarregaria de instalar fábricas do xarope em outras cidades. (Em 1893 surgiu a Pepsi, que hoje detém 26% do mercado americano de refrigerantes, três pontos abaixo da Coca-Cola.) Na virada do século, Candler inaugurou a prática inteligente de vender o xarope a terceiros, que fabricariam, engarrafariam e distribuiriam a bebida sob licença da Coca-Cola Company. A empresa mudaria de mãos mais uma vez, em 1919, ao ser comprada por 25 milhões de dólares pelo empresário Ernest Woodruff. Seu filho Robert iria dirigir a companhia de 1923 a 1955.Pouco a pouco, o caráter medicinal da bebida foi deixado de lado e sua publicidade conservou apenas o slogan "deliciosa e refrescante", que a acompanharia durante muitos anos. (A expressão mais famosa, "a pausa que refresca", data de 1929.)

À medida que a Coca-Cola passou a ser consumida como simples refrigerante, a cocaína foi eliminada de sua composição. Em 1906, quando o Food and Drug Act entrou em vigor nos Estados Unidos, regulamentando severamente a adição em produtos alimentares e farmacêuticos de substâncias consideradas perigosas à saúde, todos os traços da droga já haviam sido suprimidos da bebida. Atualmente, a única companhia americana autorizada oficialmente a importar folhas de coca é um laboratório comercial, que extrai os alcalóides para a indústria farmacêutica e vende os resíduos da planta à Coca-Cola, que os utiliza para efeito aromatizante.Se é sabido que a Coca-Cola não contém cocaína, não se sabe até hoje precisamente o que ela contém. Sua fórmula, referida também pelo código "7 X", como num romance policial, é um dos segredos comerciais mais bem guardados do mundo. Inúmeras análises químicas já tentaram decifrá-lo, em vão.

Naturalmente, os principais componentes são de domínio público, até por exigência do FDA, o órgão que controla os produtos alimentícios e medicinais nos Estados Unidos para garantir que as substâncias vendidas legalmente no país não façam mal.Sabe-se, por isso, que além de água gasosa e açúcar a fórmula contém cafeína, noz de cola, folhas de coca descocainizadas, baunilha, caramelo, limão verde, noz-moscada, canela e ácido fosfórico, mas não se conhecem as proporções desses ingredientes, nem os vários outros temperos adicionados em doses mínimas, aos quais a bebida deve seu sabor peculiar. "É exatamente como um bom perfume: pode-se imitá-lo, mas apenas o laboratório que concebeu sua fórmula é capaz de produzi-lo à perfeição", costumava explicar o proprietário Robert Woodruff.

"Um bom conhecedor pode identificar com precisão grande parte de seus componentes, mas é impossível definir sua dosagem, seu fixador e outros detalhes fundamentais."Durante muitos anos, a receita secreta era transmitida oralmente apenas para um punhado de químicos e diretores da companhia. Nenhuma nota escrita era autorizada. As etiquetas dos recipientes que continham os ingredientes eram retiradas logo depois da entrega. A partir daí eles só eram identificados pelo cheiro e por seu lugar nas prateleiras. O único documento que descreve toda a receita do sucesso é mantido a sete chaves num cofre na sede da companhia em Atlanta. A Coca-Cola tanto acredita que o segredo é a alma do negócio que em 1977 preferiu renunciar ao imenso mercado representado pelos 800 milhões de habitantes da Índia, a revelar a fórmula da bebida, como queria o governo hindu para permitir a instalação da empresa.

Além da fórmula e do logotipo, a terceira principal característica da Coca-Cola é a garrafa. No começo do século, quando se difundiu a praxe do licenciamento a terceiros para a fabricação da bebida a partir do xarope fornecido pela companhia de Atlanta, não havia um modelo único de garrafa, podendo cada distribuidor utilizar os vasilhames que quisesse. Isso, naturalmente, dificultava a identificação da verdadeira bebida entre as muitas Kolas, Colas e até Nolas que pipocavam por toda parte. As campanhas publicitárias martelavam sempre: "Exija a Coca-Cola genuína. Recuse as imitações".

Levaria ainda muito tempo até se perceber que seria muito mais fácil combater os imitadores com uma embalagem padrão, de características inconfundíveis. Só em 1916, quando já existiam 153 marcas impostoras disputando o mercado com a real thing, como a chamava a publicidade, o advogado da empresa, Harold Hirsh, propôs a criação de um modelo único de garrafa. Uma concorrência foi então aberta entre os produtores de embalagens de vidro. Um deles era a Root Glass Company, de Indiana. Seu diretor, Alex Samuelson, apostou na idéia de um design capaz de ser diretamente relacionado pelo consumidor com os ingredientes que davam nome à bebida: a noz de cola e a folha de coca.Não tendo porém a menor idéia do aspecto dessas plantas, Samuelson mandou um assistente fazer uma pesquisa numa biblioteca.

Este, que tampouco entendia coisa alguma de Botânica, enganou-se: em vez de trazer uma ilustração da planta da coca, trouxe o desenho de um cacau. Samuelson, naturalmente, não percebeu o erro; ao contrário. achou que a forma do cacau era extremamente adequada para inspirar uma embalagem. E foi assim que acabou nascendo a garrafa que o mundo aprenderia a identificar num piscar de olhos, bojuda no meio, alongada no gargalo e recortada em gomos. Houve até quem a comparasse às curvas sensuais da pin-up americana Mae West.

Apenas a partir de 1923, contudo, quando Robert Woodruff assumiu a presidência da empresa, a Coca-Cola decolaria para valer. Sob a direção de Woodruff, uma política comercial e publicitária extremamente dinâmica projetou a bebida internacionalmente. Desde o começo, Woodruff centrou sua estratégia na distribuição do produto e no reforço de sua imagem junto ao público. Assim que assumiu, criou as primeiras embalagens de papelão para seis garrafas (as famosas six pack), a bordo das quais a bebida adentraria em massa as casas americanas. Outra idéia revolucionária de Woodruff, esta de 1930, foram as geladeiras vermelhas para conservar o refrigerante nos pontos-de-venda, uma das quais viria a ser concebida pelo designer Raymond Loewy. Uma grande sacada, em 1933, foram os distribuidores automáticos de copos de Coca-Cola, que permitiriam à bebida estar presente, sempre gelada, em fábricas, escritórios, estádios, clubes, cinemas etc.

A conquista do mundo, porém, começou com a Segunda Guerra Mundial. Graças à antiga amizade de Woodruff com o general Dwight D. Eisenhower, comandante-em-chefe das Forças Armadas dos Estados Unidos. a empresa colheu em Washington uma autorização excepcional para importar todo o açúcar de que necessitasse, um artigo que o conflito tornara escasso e sujeito a racionamento. Isso representou uma vantagem incalculável, já que a concorrência não foi beneficiada pelo mesmo privilégio. Woodruff conseguiu a concessão seduzindo Eisenhower com a promessa de que todo soldado americano, onde quer que estivesse, poderia comprar uma garrafa de Coca-Cola por 5 cents, pelo tempo que durasse a guerra.

A manobra de Woodruff permitiu-lhe ainda embarcar gratuitamente nos navios de transporte militar a maior parte das instalações de engarrafamento que a empresa montaria na Europa. Nada menos de 64 fábricas foram assim enviadas além-mar. Depois da vitória, elas permaneceram onde estavam e as populações civis substituíram a clientela militar. A partir de então, a Coca-Cola seria lançada sucessivamente em quase todos os países do mundo, incluindo a China e a União Soviética, enquanto a empresa criaria uma série de outros produtos aparentados, como a Fanta e a Cherry Coke, e ainda a Diet Coke.

Em 1985, acondicionada numa embalagem especial, ela atravessou as fronteiras do planeta a bordo do ônibus espacial Discovery, tornando-se assim o primeiro refrigerante a ser consumido no espaço. Hoje a empresa é responsável pela produção de pouco mais de 1/3 de todas as bebidas não alcoólicas consumidas no mundo, tendo faturado em 1989 quase 9 bilhões de dólares. Um sucesso que talvez tenha sido explicado melhor do que ninguém pelo falecido artista plástico americano Andy Warhol, por sinal um de seus maiores fãs: "Todo mundo bebe Coca-Cola, do garçom do bar ao presidente dos Estados Unidos, passando por você e por Elizabeth Taylor. E não há fortuna no mundo capaz de comprar uma Coca melhor do que aquela que você bebe".




Para saber mais:

Sabor de espuma

(SUPER número 12, ano 3)

É isso aqui

Em números absolutos, o Brasil é o terceiro consumidor mundial de Coca-Cola, abaixo apenas dos Estados Unidos e do México. Estima-e que em 1990 os brasileiros beberam perto de 2,6 bilhões de litros do refrigerante, o que daria algo como 17 litros para cada homem, mulher, velho e criança. É um gosto duradouro. O país foi apresentado à Coca-Cola numa época de intenso namoro com os Estados Unidos, no curso da Segunda Guerra Mundial. Para combater a influência alemã, Washington construiu uma estratégia de aproximação com o Brasil, a famosa Política de Boa Vizinhança. Dela descenderiam em linha direta os requebros de Carmen Miranda em Hollywood e as malandragens do Zé Carioca nos quadrinhos Disney — e também, em última análise, os dólares para a usina de Volta Redonda e os tiros dos pracinhas no front italiano.

As primeiras Coca-Colas made in Brazil, nas clássicas garrafinhas de 185 ml, apareceram em abril de 1942, distribuídas por uma fábrica inaugurada um mês antes no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Logo de saída venderam-se 1 843 caixas. Em junho de 1943 foi instalada uma filial em São Paulo. Mas o decreto autorizando a Coca-Cola Company a funcionar no Brasil só seria assinado no ano seguinte pelo presidente Getúlio Vargas — que por sinal dispensou a empresa de revelar o segredo do refrigerante. De todo modo, a companhia informa ter fornecido às autoridades amostras para análises físicas, químicas e microbiológicas, além de cumprir os padrões que definem os aditivos permitidos e proibidos em alimentos e bebidas.Segundo a empresa, só alguns ingredientes do refrigerante são importados. A Coca-Cola assegura que a bebida é a mesma em qualquer parte do mundo: tem 88% de água, 9,976% de açúcar, 2% de gás carbônico e 0,024% do tal xarope que é a alma do negócio. Se a Coca brasileira parece algo mais doce, isso se deveria a variações da matéria-prima empregada como edulcorante. No Brasil, como na maioria dos países, utiliza-se o açúcar de cana.

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Os segredos das palavras


Os segredos das palavras

Algumas variantes de um jogo clássico, a palavra secreta

por Luiz Dal Monte Moto

O conhecidíssimo jogo da forca tem um parente também ilustre. Alguns o chamam de palavra secreta, outros, de senha, para designar o invento de Mordecai Meirowitz, um engenheiro de telecomunicações de Israel, que, na primeira metade da década de 70, conquistou o mundo com sua criação. Senha foi o nome que o invento recebeu na versão brasileira, produzida pela Grow Jogos e Brinquedos S.A. Conhecido internacionalmente como mastermind e muito popular, foi adaptado para micros com o nome de codebreaker. Na senha jogada com palavras, um dos jogadores, o desafiante, escreve num pedaço de papel uma palavra com um número de letras previamente combinado (em geral, de cinco a sete). Então, o oponente, chamado desafiado, tentará descobri-la a partir de múltiplas tentativas. Em cada uma, ele dirá uma palavra com o mesmo comprimento e receberá como informação apenas o número de letras coincidentes com as mesmas posições daquelas da palavra secreta.

É por isso que o jogo é chamado crash (colisão) nos países de língua inglesa. Como exemplo, suponhamos que a palavra seja disco. Se o desafiado disse costa, o desafiante responderá "uma", devido à coincidência no "s" (o "c" e o "o" não ocupam as mesmas posições nas duas palavras). A partida termina quando o desafiado obtém o máximo possível de coincidências, ou seja, quando propõe a própria palavra secreta. O escore será igual ao número de tentativas feitas. Aí, os papéis se invertem para uma nova partida e os escores são comparados. Vence o menor. Assim é o jogo em sua forma original. A primeira variante, cujo nome é jotto ou giotto, facilita um pouco as coisas porque não precisa haver coincidência nas posições ocupadas pelas letras. Desse modo, repetindo o exemplo anterior, o desafiante responderia "três", pois costa e disco têm três letras em comum. O invento de Meirowitz, na verdade, é a combinação do jogo básico com a primeira variante, transpostos para o universo das cores, em vez das letras.

Outra variante - wild crash - permite que o desafiante mude a palavra secreta durante a partida, enquanto o oponente vai propondo seus palpites. Naturalmente, para evitar o caos - e eventuais agressões físicas após o jogo -, é essencial que as novas palavras sejam compatíveis com todas as informações previamente fornecidas. Ainda usando nosso exemplo, após a primeira tentativa o desafiante poderia mudar disco para crime, pois isso não entraria em contradição com a resposta dada {crime e costa também têm uma letra em comum e na mesma posição). Esta é uma variante interessante, porque exige uma participação bastante ativa do desafiante - quanto mais acrobacias lógicas fizer, melhores suas possibilidades de escamotear a palavra secreta e atrasar a adivinhação.

Uma terceira variante é a que se pode chamar de palavra anti-secreta. É uma espécie de crash ao contrario, onde um dos participantes propõe uma palavra e a escreve numa folha. Então, o adversário deve escrever outra, com o mesmo número de letras, que não tenha nenhuma coincidência com a primeira. A vez retorna ao primeiro jogador, que deve escrever uma terceira palavra que não tenha coincidências com nenhuma das anteriores e assim sucessivamente, até que um dos dois não consiga ampliar a lista. Esse será o perdedor. Convém estabelecer um tempo máximo de reflexão, para que a partida termine ainda nesta vida.

Finalmente, deixo o leitor com o jogo da convergência, uma variante inventada pelos membros do departamento de pesquisa matemática dos Laboratórios Bell, em Nova Jersey, Estados Unidos, nos anos 50. Nela, o desafiante escreve uma sentença com quatro palavras. O oponente inicia sua pesquisa propondo também uma sentença do mesmo tamanho. Então, o desafiante informa, para cada palavra, se ela vem antes ou depois da que foi proposta no lugar correspondente, de acordo com a ordem em que aparecem num dicionário. As tentativas se sucedem, até que a sentença original seja descoberta. Os escores são apurados do modo já explicado.

Para ficar mais claro, vejamos o seguinte caso: a frase secreta é "o espaço está acabando", e o primeiro palpite, "preciso encerrar o artigo". A informação a passar seria então: o antes (de preciso); espaço depois (de encerrar); está antes (de o); acabando antes (de artigo).


Luiz Dal Monte Neto é arquiteto e designer de jogos e brinquedos
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Como surgiram os nomes das cores?



Como surgiram os nomes das cores?

por Rita Loiola

- A mistura de todas as cores sempre dá branco?
- E se... não conseguíssemos enxergar as cores?

SORRISO AMARELO

Na Antiguidade, pensava-se que a icterícia, uma doença que deixa as crianças amareladas, vinha da bílis, secreção produzida pelo fígado que era chamada "humor amargo". No latim, amargo era amargus, que no diminutivo virava amarellus, que acabou virando amarelo

AGENTE LARANJA

Quando os árabes resolveram fazer uma "visitinha" à Europa, trouxeram na bagagem a fruta laranja - nárandja, em árabe. De lambuja, acabaram batizando a cor

CARTA BRANCA

Em geral, dizemos que algo bem liso e brilhante é "branquinho". Os latinos também achavam isso e pegaram o germânico blank, que significa polido, para falar da cor. Aliás, o termo "armas brancas", usado para facas e punhais, vem daí: branco de polido, reluzente

NO "APRETO"

O nome da cor preta vem do latim appectoráre, que queria dizer "comprimir contra o peito". Como assim? É que, com o tempo, o appectorár virou apretar. E, por uma analogia muuito criativa, deu no preto, querendo dizer algo denso, espesso, "apertado"

SANGUE AZUL

Foi uma pedra preciosa chamada lápis-lazúli que batizou a cor azul. Lápis não conta, porque já queria dizer pedra em latim, mas o lazúli veio do árabe lázúrd, nome da rocha azulada. Em latim, o que era pedra continuou pedra, e a cor ficou simplesmente azul

MARROM-GLACÊ

A castanha portuguesa, aquela do Natal, chama-se marron, em francês. E foi da cor desse fruto que veio o nosso marrom. Aliás, o marrom-glacê é isso: um doce escuro feito de castanha portuguesa

MASSA CINZENTA

O cinza nasceu daquela massa de pó misturado com brasas que sobra no fim das fogueiras. Por associação, a palavra latina cinisia, que queria dizer cinzas, transformou-se também no nome do tom preto-claro

VERMELHO-SANGUE

Antigamente, como ninguém conhecia urucum nem pau-brasil na Europa, o único jeito de fazer tinta vermelha era usar um inseto - hoje chamado de cochonilha - que, esmagado, virava um vermelhão. O nome dessa cor vem do latim vermiculum, vermezinho

VERDES ANOS

Aqui chegamos a uma das poucas cores que já nasceu cor. O verbo latino vivere significava estar verde, verdejar. Dele é que nasceu a associação do verde com algo que está nascendo, que ainda não está pronto

CONSULTORIA - Mário Viaro, filólogo da Universidade de São Paulo (USP)

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Por que quando rimos demais começamos a chorar?


Por que quando rimos demais começamos a chorar?



Existem duas explicações para aquela lágrima escorrer após uma boa gargalhada. A primeira é emocional: choramos porque estamos alegres. Ao soltar uma gargalhada daquelas, desencadeamos uma reação no sistema límbico, região do cérebro que controla as emoções.

A outra explicação é fisiológica. Algumas pessoas têm no rosto uma distribuição incomum dos nervos. Por causa disso, quando abrem a boca para rir (ou mesmo para bocejar), o conjunto de nervos que liga a mandíbula às glândulas salivares acaba estimulando a glândula lacrimal.

O hipotálamo é uma das regiões cerebrais que compõem o sistema límbico. Ao detectar a emoção de alegria, ele ordena a produção da acetilcolina, um neurotransmissor que viaja pelo sistema nervoso parassimpático, conectado à glândula lacrimal.

Isso acontece porque tanto os nervos quanto as glândulas lacrimais estão conectados ao sistema nervoso parassimpático, parte do sistema nervoso que estimula atividades relaxantes em glândulas e músculos.

Os dois fenômenos podem ocorrer tanto sozinhos como em conjunto. Nos dois casos, a glândula lacrimal recebe os impulsos do sistema nervoso e entra em ação, produzindo lágrimas que se acumulam no lago lacrimal, até que transbordam, fazendo a gente chorar.

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O que é a teoria do caos?

O que é a teoria do caos?



É uma das leis mais importantes do Universo, presente na essência de quase tudo o que nos cerca. A idéia central da teoria do caos é que uma pequenina mudança no início de um evento qualquer pode trazer conseqüências enormes e absolutamente desconhecidas no futuro. Por isso, tais eventos seriam praticamente imprevisíveis - caóticos, portanto. Parece assustador, mas é só dar uma olhada nos fenômenos mais casuais da vida para notar que essa idéia faz sentido. Imagine que, no passado, você tenha perdido o vestibular na faculdade de seus sonhos porque um prego furou o pneu do ônibus. Desconsolado, você entra em outra universidade. Então, as pessoas com quem você vai conviver serão outras, seus amigos vão mudar, os amores serão diferentes, seus filhos e netos podem ser outros...

No final, sua vida se alterou por completo, e tudo por causa do tal prego no início dessa seqüência de eventos! Esse tipo de imprevisibilidade nunca foi segredo, mas a coisa ganhou ares de estudo científico sério no início da década de 1960, quando o meteorologista americano Edward Lorenz descobriu que fenômenos aparentemente simples têm um comportamento tão caótico quanto a vida. Ele chegou a essa conclusão ao testar um programa de computador que simulava o movimento de massas de ar. Um dia, Lorenz teclou um dos números que alimentava os cálculos da máquina com algumas casas decimais a menos, esperando que o resultado mudasse pouco. Mas a alteração insignificante, equivalente ao prego do nosso exemplo, transformou completamente o padrão das massas de ar. Para Lorenz, era como se "o bater das asas de uma borboleta no Brasil causasse, tempos depois, um tornado no Texas". Com base nessas observações, ele formulou equações que mostravam o tal "efeito borboleta".

Estava fundada a teoria do caos. Com o tempo, cientistas concluíram que a mesma imprevisibilidade aparecia em quase tudo, do ritmo dos batimentos cardíacos às cotações da Bolsa de Valores. Na década de 70, o matemático polonês Benoit Mandelbrot deu um novo impulso à teoria ao notar que as equações de Lorenz batiam com as que ele próprio havia feito quando desenvolveu os fractais, figuras geradas a partir de fórmulas que retratam matematicamente a geometria da natureza, como o relevo do solo ou as ramificações de nossas veias e artérias. A junção do experimento de Lorenz com a matemática de Mandelbrot indica que o caos parece estar na essência de tudo, moldando o Universo. "Lorenz e eu buscávamos a mesma verdade, escondida no meio de uma grande montanha.

A diferença é que escavamos a partir de lugares diferentes", diz Mandelbrot, hoje na Universidade de Yale, nos Estados Unidos. E pesquisas recentes mostraram algo ainda mais surpreendente: equações idênticas aparecem em fenômenos caóticos que não têm nada a ver uns com os outros. "As equações de Lorenz para o caos das massas de ar surgem também em experimentos com raio laser, e as mesmas fórmulas que regem certas soluções químicas se repetem quando estudamos o ritmo desordenado das gotas de uma torneira", afirma o matemático Steven Strogatz, da Universidade Cornell, nos Estados Unidos. Isso significa que pode haver uma estranha ordem por trás de toda a imprevisibilidade. Só a continuação das "escavações" pode resolver o mistério.

Imprevistos decisivos

A idéia central da tese é que pequenas alterações numa situação trazem efeitos incalculáveis

1. A essência da teoria do caos é que uma mudança muito pequena nas condições iniciais de uma situação leva a efeitos imprevisíveis. É o que acontece nesse exemplo hipotético, em que uma menina brinca despreocupadamente com sua bola. Parece uma situação sem grandes conseqüências, mas...

2. ... uma borboleta surpreende a garotinha! Pronto: apareceu a tal "pequena alteração nas condições iniciais". Com o susto, ela deixa a bola cair

3. A bola vai rolando em direção à estrada e a menina corre atrás para recuperá-la. Enquanto isso, um caminhão carregado de sal está passando por ali

4. Para não atropelar a menina, o motorista vira o volante subitamente. Mas o caminhão não agüenta a manobra e tomba. O veículo começa a pegar fogo

5. Todo o suprimento de sal começa a torrar. A fumaça do incêndio está carregada de minúsculas partículas de cloreto de sódio, que sobem para as nuvens

6. Nas nuvens, as partículas de cloreto de sódio atraem pequenas gotinhas de vapor d’água e começam a formar gotas de chuva, que crescem até terem peso suficiente para cair

7. Com as nuvens pesadas, começa a chover depois de algum tempo. Ou seja, a brincadeira inocente da menina, no fim, produziu uma alteração imprevisível nas condições climáticas!

Geometria reveladora

Gráficos indicam quando um evento é caótico

Cientistas traduzem o movimento de um objeto ou de um sistema dinâmico como a atmosfera em gráficos abstratos, chamados de atratores. Dependendo do desenho que surge, dá para saber se um determinado acontecimento é previsível ou não

Ponto imóvel

O gráfico abstrato de algo estático, como uma bolinha de gude parada, é um simples ponto. Basta pensar um pouco: se não houver uma força externa, como alguém que resolva empurrá-la, a bolinha sempre vai estar ali e o ponto isolado indica essa ausência de movimento

Movimento previsível

No caso de um pêndulo, que se move harmonicamente, o gráfico do movimento tem formato espiral. Isso indica que ele se movimentará por um certo tempo até parar. Dependendo da força inicial, dá para saber exatamente quando e onde isso vai acontecer

Caos total

As equações que explicam o comportamento de eventos imprevisíveis dão origem a gráficos conhecidos como fractais, figuras de geometria maluca e detalhes infinitos. O desenho acima é a representação artística do gráfico que indica o movimento das massas de ar



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Texto

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
 
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